domingo, 20 de setembro de 2009

Fernando Pessoa - ortónimo A teoria do fingimento poético

Fernando Pessoa
A TEORIA DO FINGIMENTO POÉTICO

A teoria do fingimento poético consiste na transformação intelectual do pensamento, ou seja, o poeta finge completamente a dor. Na perspectiva de Fernando pessoa, existem três tipos de emoções que estão por detrás da poesia: as “emoções vividas” mas já passadas, visto que a composição de um poema deve ser feita não no momento da emoção, mas no momento da sua recordação; as emoções que ficam “presentes na recordação”, que são repetidas através de um processo de transformação pelo intelecto; e por fim as “emoções falsas”, não vividas mas sim imaginadas. Se nos questionarmos acerca das emoções do leitor, podemos obter a seguinte conclusão: estas emoções não são as vividas pelo poeta, nem aquelas que exprimiu artisticamente. São apenas emoções reflectidas pelo poema, que provocam um estado de alma que não se define na totalidade. Logo, podemos concluir que toda a emoção que é verdadeira é transformada na inteligência, pois não se dá nela. Para uma emoção ser verdadeira, tem de se dar na inteligência e isto, segundo Pessoa, não se verifica, pois as emoções são sentidas primeiro pelo coração.
Assim, a teoria do fingimento poético resume-se na capacidade que o poeta tem de transformar com o intelecto, a matéria em poema e este funciona como o produto das emoções, intelectualizadas pelo sujeito poético.

Elaborado por: Ruben Amaral

Fernando Pessoa- Ortónimo O fingimento poético

Para Fernando Pessoa, um poema "é um produto intelectual"e, por isso, não acontece no momento da emoção, mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de existir intelectualmente, o que só na recordação é possível. Há uma necessidade da intelectualização da emoção para exprimir a arte. Ao não ser um produto directo da emoção, mas uma construção mental, a criação de um poema confunde-se com um fingimento.

Não há propriamente uma rejeição da sinceridade de sentimentos do eu individualizado e real do poeta, mas interessa-lhe a capacidade do eu poético em estabelecer novas relações do Ser com o Mundo e de dizer o que efectiva e intelectualmente sente. O fingimento apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

A crítica da sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na dialéctica da sinceridade/fingimento que se liga à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar e que leva Pessoa a afirmar que "fingir é conhecer-se". O poeta considera que a criação artística implica a concepção de novas relações significativas, graças à distanciação que faz do real, o que pode ser entendido como um acto de fingimento ou mentira.

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta, por vezes, recorre à ironia para pôr em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções.