domingo, 8 de novembro de 2009

Ricardo Reis - Poema

Cada um Cumpre o Destino que lhe Cumpre

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Alberto Caeiro


Estou Lúcido como se Nunca Tivesse Pensado

A noite desce, o calor soçobra um pouco,
Estou lúcido como se nunca tivesse pensado
E tivesse raiz, ligação directa com a terra
Não esta espécie de ligação de sentido secundário observado à noite.
À noite quando me separo das cousas,
E m'aproximo das estrelas ou constelações distantes —
Erro: porque o distante não é o próximo,
E aproximá-lo é enganar-me.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Alberto Caeiro - Síntese

Alberto Caeiro vê as coisas apenas com os olhos e não com a mente. Quando olha para uma flor, não permite que isso provoque quaisquer pensamentos. A única coisa que uma pedra lhe diz é que nada tem para lhe dizer. Esta maneira de olhar para uma pedra pode ser definida como a maneira totalmente não-poética de a olhar. O facto estupendo acerca de Caeiro é que produz poesia a partir deste sentimento, ou, antes ausência de sentimento.
A poesia de Caeiro é sensacionista. A sua base é a substituição do pensamento pela sensação, não só como base da inspiração mas também como meio da expressão.
Caeiro é o sensacionista puro e absoluto que se prostra ante as sensações e nada mais admite. Caeiro não tem ética, a não ser a simplicidade. Caeiro é pagão. Aliás, diz Álvaro de Campos, era o paganismo.
Na poesia de Caeiro verifica-se que:
vive de impressões, fundamentalmente visuais;
• identifica-se com a natureza e vive de acordo com as suas leis;
• é instintivo e espontâneo;
• prefere a objectividade;
• abre-se para o mundo exterior;
• recusa a introspecção e a subjectividade;
• repudia a expressão sentimental;
• vive no presente;
• diz que "pensar é estar doente dos olhos";
• usa uma linguagem simples, familiar e denotativa;
• cultiva o verso livre;
• os recursos estilísticos que usa são a comparação, a metáfora e a personificação;
• a sua poesia é bucólica;
• recusa a metafísica e afirma não ter filosofia.

Caeiro por Eduardo Lourenço

Caeiro é a nossa reconciliação com o universo, o regresso à idade idílica da harmonia com a Natureza que, aliás, não é idílica. Na verdade, Caeiro é o mero Sonho desse sonho. Nós não podemos recuperar a alma grega que o cristianismo corroeu sem remédio. Não podemos ser pagãos por inocência. Caeiro não é uma saída verdadeira do labirinto do Tempo, o nada vivo em que estamos como Pessoa o visiona. É uma porta pintada para nos fazer crer que tocamos com mãos de vida e não de sombra o autêntico real.
Eduardo Lourenço, Fernando, Rei da Nossa Baviera

Alberto Caeiro

Caeiro quer ajudar o espírito doente dos homens (adoecido por séculos de cristianismo) a amar a realidade visível, por isso a “saber ver sem estar a pensar”, sem tentar encontrar um sentido às coisas” que as remeta para um lado de dentro que a natureza não tem – esse Além que o cristianismo ensinou a venerar. Caeiro ensina a “ver, apenas a ver” o que a claridade do sol e a curva do horizonte permitem. Por isso a noite é má conselheira: sem o apoio no concreto, os olhos começam a delirar, a ver o que não está ali, a pensar no que as coisas significam. Mas as coisas não têm significado, têm existência”. Caeiro ensina a criar a raiz, e no Perto, a enjeitar o ilimitado, o infinito, o mistério: por isso nunca fala do mar que foi banido do seu universo.
Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, Ed. Estampa

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ricardo Reis

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).
Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Milton de Aguiar A gripe

Curtes aí no leito a mais aborrecida
Doença que há na vida:
A gripe maçadora:
A penca a pingar, dorida, inflamada;
Rubra a garganta, a cabeça pesada,
Espilros e tosse esfaceladora.

Deves sofrer porém tudo isso alegremente,
Seres feliz na dor.
Porque tu, Milton, és incontestavelmente,
No meio do defluxo, a vítima do amor!

Do amor, da arte divina,
Da arte suprema e bela
Que nada pode igualar...
És a vítima da TINA,
Somente por causa dela
Estás aí a espilrar!...

Não deves pois sofrer, gozar deves até.
Não se sofre por uma mulher linda,
Assim como essa é.
A dor que ela nos causa, uma ventura infinda
À nossa alma dá:
É um sofrer delicioso,
É um sofrer voluptuoso
Como no mundo outro não há!...

Não te lamento, invejo-te - acredita -,
Não vou saber de ti pra não te despertar
Do sonho em que tu vês essa mulher bendita
Que te fez constipar.

Sem nada mais dizer, desculpa se te maço
Com esta versalhada.
Adeus até breve. Isso não é nada.
Aceita um grande abraço.

Mário de Sá-Carneiro

domingo, 18 de outubro de 2009

Características da poesia de Pessoa ortónimo


Uma das características de Pessoa ortónimo é a dor de pensar que o persegue desde sempre e que manifesta em vários poemas. Como tal são frequentes as tensões ou dicotomias que espelham a sua complexidade interior.
Quanto à dicotomia sinceridade/fingimento, o poeta questiona-se sobre a sinceridade poética e conclui que «fingir é conhecer-se», daí a despersonalização do poeta fingidor que fala e se identifica com a própria criação poética, como impõe o modernismo. Lugares de destaque ocupam os poemas “Isto” e “Autopsicografia” (onde teoriza a criação artística), em que se definem claramente os lugares da inteligência e do coração (as sensações), na criação artística. É assim que este poeta, possuidor de uma grande capacidade de despersonalização (sem todavia deixar de ser um), procura, através da fragmentação do eu (“Continuamente me estranho”, “Não sei quantas almas tenho”), atingir a finalidade da arte, servindo-se da intelectualização do sentimento que fundamenta o poeta fingidor.
O poeta debate-se frequentemente com as dialécticas sentir/pensar e consciência/inconsciência, tentando encontrar um ponto de equilíbrio, o que não consegue. Em “Ela canta pobre ceifeira”, o poeta vive intensamente estas dicotomias: deseja ser a ceifeira que canta inconscientemente, («Ter a tua alegre inconsciência»), e simultaneamente («ter a consciência disso»). Enquanto ela se julga feliz por apenas sentir, o sujeito poético está infeliz porque pensa, racionaliza em excesso. Na mesma linha, cita-se o poema “Gato que brincas na rua”, no qual o sujeito poético reforça a ideia da felicidade de não pensar, («És feliz porque és assim/Que tens instintos gerais/E sentes só o que sentes»).
Em “Leve, breve, suave”, Pessoa manifesta o seu desalento, a sua frustração quando o “eu” consciente do poeta intervém (Escuto, e passou…/Parece que só porque escutei/ Que parou.”). A frustração é resultante de uma incapacidade de atingir plenamente a satisfação, a felicidade.
A luta incessante entre as várias dialécticas origina a dor de pensar e a angústia existencial que bem caracterizam este poeta, e se verificam no poema “Tudo o que faço ou medito”.
Pessoa ortónimo é o poeta da desilusão, tem uma visão negativa do mundo e da vida, como o manifesta no poema “Abdicação”, onde se entrega à «noite eterna” (morte) como se fosse a sua própria mãe.
Outra temática abordada pelo poeta é a desagregação do tempo. Para o poeta, o tempo é um factor de desagregação porque tudo é breve, efémero. Esta fugacidade da vida fá-lo desejar ser criança de novo, visto que a infância lhe surge como o único momento possível de paz e felicidade, como documentam os poemas “Quando era criança”e “Quando as crianças brincam”.
Coexistem duas vertentes na produção poética de Pessoa ortónimo: uma de carácter tradicionalista e outra de carácter modernista. A primeira oferece poemas de métrica curta, manifestando preferência pela quadra e a quintilha. A segunda oferece poemas que iniciam o processo de ruptura com esta corrente.
in Português B, Maria José Peixoto e Célia Sousa, Asa, 2001 (adaptado)

Fernando Pessoa, indisciplinador

Consciente de todos estes recursos de acção cultural, Pessoa sentiu-se um dos «criadores da consciência do mundo». Aparentemente, era apenas um correspondente comercial dado à bebida pelos cafés e tabernas da baixa de Lisboa. No entanto, sabia que, em termos de aparência, também Shakespeare, em vida, fora apenas um «dramaturgo atabalhoado», Milton um «mestre escola» e Dante «um vadio» (Obras, vol. II, 897). Os amigos sempre o consideraram «um dos maiores poetas contemporâneos», e ele deve ter concordado com eles (Obras, vol. II, P. I93). Pessoa não foi discreto: interveio quanto pôde, e publicou quanto pôde, ou o que mais lhe interessou publicar. Dispunha de acesso directo a tipografias, dirigiu editoras e várias revistas, e tinha um claro entendimento do que era a actividade editorial. Todas as oportunidades lhe serviram para «indisciplinar». Sobre ele, na Lisboa de 1920 não havia desconhecimento, mas silêncio, provocado por irritação e incomodidade. Em 1915, na secção de crítica do Jornal, em 1915, Pessoa publicara textos chocarreiros e ofensivos para as sumidades literárias, jornalísticas e científicas de Lisboa, chamando «criminoso» e «idiota» a Afonso Lopes Vieira e classificando Manuel de Sousa Pinto como «crítico de segunda ordem», «caricatura de si próprio», e distribuindo outros insultos a João de Barros, F. Adolfo Coelho, Júlio Dantas, ou Júlio de Matos. A sua entrevista à Revista Portuguesa, - de 13 de Outubro de 1923, é de um inusitado tom intempestivo, como se se quisesse indispor com todos: contra os «nacionalistas», a quem chama gordurosos; contra os da Seara Nova, fazendo a apologia do Bandarra, que eles detestavam; e finalmente contra a «proletariagem», a quem classifica de «subgente». Não tinha piedade por ninguém: «Há só um período de criação na nossa história literária: não chegou ainda.» E continuou sempre neste estilo: em 1928, defendeu a ditadura militar; em 1935, a maçonaria, depois de publicar a Mensagem e ter aceitado um prémio do Secretariado Nacional de Propaganda. Não era igual aos outros. Uma namorada de escritório que teve em 1920 (aos 31 anos), diria anos depois que «o Fernando era uma pessoa muito especial. Toda a sua maneira de ser, de sentir, de se vestir até, era especial». Nunca aceitou reconhecer o namoro, ser apresentado à família. «Isso é de gente vulgar», protestou sempre. A sua maneira intempestiva mais o deve ter isolado, mesmo entre prováveis admiradores. João Gaspar Simões conta como José Régio se calou sobre Pessoa depois de este o ter chocado com os seus modos irreverentes. Pessoa nunca foi geralmente estimado
Rui Ramos, in História de Portugal, P. 664, Ed. Círculo de Leitores, 1994

Fernando Pessoa ortónimo-síntese das ideias essenciais

Em Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, há poemas mais tradicionais com influência lírica de Garrett ou do sebastianismo ou do saudosismo. No entanto, muitos dos poemas abrem caminho a experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.
A poesia de Pessoa ortónimo apresenta suavidade rítmica e musical, sendo os versos geralmente curtos.
Na poesia de Pessoa ortónimo, é constante o conflito entre o pensar e o sentir, o que revela a dificuldade em conciliar o que idealiza com o que consegue realizar, com a consequente frustração que a consciência de tudo isso implica. Revela-se aí um drama de personalidade que leva o sujeito poético à dispersão, em relação ao real e a si mesmo.

O fingimento artístico
Para Pessoa, um poema «é um produto intelectual» e, por isso, não acontece «no momento da emoção», mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de «existir intelectualmente», o que só na recordação é possível.
Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto directo da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um «fingimento», uma simulação.
Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o «fingimento», que não é mais do que uma realidade nova, elaborada mentalmente.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que se quer representar.

A dor de pensar
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência.
A racionalização não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.
A dialéctica da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.
A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.

A nostalgia da infância
Pessoa sente nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora uma felicidade passada. Há, na sua poesia, uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.
O seu desejo de ser criança novamente tem que ver com a noção concreta de que o tempo é um factor de desagregação. Na vida, tudo é efémero.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Fernando Pessoa por Almada Negreiros

As temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo


O fingimento artístico;

Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve, Fernando Pessoa aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia-se em experiências vividas , mas transcreve apenas o que lhe vai na imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O leitor é que ao ler, vai sentir o poema.

A dor de pensar;

Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes de ter a inconsciência das coisas ou dos seres comuns que agem como uma pobre ceifeira ou que cumprem apenas as leis do instinto como o gato que brinca na rua.
Com uma inteligência analítica e imaginativa a interferir em toda a sua relação com o mundo e com a vida , o sujeito poético tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira dor de pensar, que traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento . O sujeito poético sente-se impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que não permite conciliar a consciência e a inconsciência.
O poeta “não quer” intelectualizar as emoções, quer permanecer ao nível do sensível para poder desfrutar dos momentos, a constante intelectualização não o permite. Sente-se como enclausurado numa cela pois sabe que não consegue deixar de raciocinar. Sente-se mal porque, assim que sente, automaticamente intelectualiza essa emoção e, através disso, tudo fica distante, confuso e negro. Ele nunca teve prazer na realidade porque para ele tudo é perda, quando ele observa a realidade parece que tudo se evaporou.
A fragmentação do eu/Resignação dorida;

O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Sofre a vida sendo incapaz de a viver.
No poema Não sei quantas almas tenho, o sujeito poético confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, porque esta divisão provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aquilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história, distancia-se para se ver, despersonaliza-se.

in http://www.notapositiva.com/
(adaptado)

domingo, 20 de setembro de 2009

Fernando Pessoa - ortónimo A teoria do fingimento poético

Fernando Pessoa
A TEORIA DO FINGIMENTO POÉTICO

A teoria do fingimento poético consiste na transformação intelectual do pensamento, ou seja, o poeta finge completamente a dor. Na perspectiva de Fernando pessoa, existem três tipos de emoções que estão por detrás da poesia: as “emoções vividas” mas já passadas, visto que a composição de um poema deve ser feita não no momento da emoção, mas no momento da sua recordação; as emoções que ficam “presentes na recordação”, que são repetidas através de um processo de transformação pelo intelecto; e por fim as “emoções falsas”, não vividas mas sim imaginadas. Se nos questionarmos acerca das emoções do leitor, podemos obter a seguinte conclusão: estas emoções não são as vividas pelo poeta, nem aquelas que exprimiu artisticamente. São apenas emoções reflectidas pelo poema, que provocam um estado de alma que não se define na totalidade. Logo, podemos concluir que toda a emoção que é verdadeira é transformada na inteligência, pois não se dá nela. Para uma emoção ser verdadeira, tem de se dar na inteligência e isto, segundo Pessoa, não se verifica, pois as emoções são sentidas primeiro pelo coração.
Assim, a teoria do fingimento poético resume-se na capacidade que o poeta tem de transformar com o intelecto, a matéria em poema e este funciona como o produto das emoções, intelectualizadas pelo sujeito poético.

Elaborado por: Ruben Amaral

Fernando Pessoa- Ortónimo O fingimento poético

Para Fernando Pessoa, um poema "é um produto intelectual"e, por isso, não acontece no momento da emoção, mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de existir intelectualmente, o que só na recordação é possível. Há uma necessidade da intelectualização da emoção para exprimir a arte. Ao não ser um produto directo da emoção, mas uma construção mental, a criação de um poema confunde-se com um fingimento.

Não há propriamente uma rejeição da sinceridade de sentimentos do eu individualizado e real do poeta, mas interessa-lhe a capacidade do eu poético em estabelecer novas relações do Ser com o Mundo e de dizer o que efectiva e intelectualmente sente. O fingimento apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

A crítica da sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na dialéctica da sinceridade/fingimento que se liga à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar e que leva Pessoa a afirmar que "fingir é conhecer-se". O poeta considera que a criação artística implica a concepção de novas relações significativas, graças à distanciação que faz do real, o que pode ser entendido como um acto de fingimento ou mentira.

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta, por vezes, recorre à ironia para pôr em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A educação dos jovens


Segundo um velho ditado africano, é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. A criação e a educação de um indivíduo é uma acção que envolve vários participantes. O papel principal cabe à família mas também a escola, o meio social ao qual se pertence, a televisão, a Internet, os livros que se lêem, a religião que se professa condicionam a educação do ser humano.
A família, para além de dar à criança os bens necessários à sua sobrevivência (comida, roupa, casa, cuidados de higiene e de saúde), deve também transmitir valores que permitam viver em sociedade de forma harmoniosa, ajudar na instrução e educar para que os comportamentos de cada indivíduo se adequem à vida em comum. À família cabe o papel de ensinar a respeitar o outro, a ser honesto e verdadeiro, modesto mas curioso, a defender os seus interesses educadamente, a compreender que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros e que o trabalho é um valor importantíssimo.
A escola, o meio social que rodeia a criança, os media, os livros (quando se lê), a igreja, ou a sua ausência complementam a educação/ formação do futuro cidadão. Contudo, quando as famílias funcionam bem e os pais se envolvem na educação dos filhos, a influência destes últimos é sempre a mais importante, pois os assuntos relacionados com a escola, os livros lidos, os programas vistos são discutidos em família e os pais aproveitam para transmitir os seus próprios valores
Todos sabemos que há cada vez mais crianças mal-educadas. O que é que se passa, na nossa sociedade? Como diz o padre António Vieira, no Sermão de Santo António aos Peixes, "Ou o sal não salga, ou a terra não se deixa salgar". Isto é ou os pais não estão a educar convenientemente, ou os filhos não recebem a educação que se lhes pretende transmitir.
Talvez as duas hipóteses sejam verdadeiras.
Todavia, para mim uma é mais verdadeira do que a outra. As famílias debatem-se com vários problemas: falta de tempo, não saber como educar, transmitir valores errados muito baseados nos bens materiais e fúteis, deixar que a Internet e a televisão assumam o papel de transmissores de valores, não ter autoridade perante os filhos...
A verdade é que a falta de educação, de valores, do saber conviver com o outro estão a transformar a nossa sociedade numa sociedade intolerante, sem harmonia, e infeliz.
Tudo isto é verdade, sobretudo no local onde trabalho: a escola.

sábado, 25 de julho de 2009

Os homens poderosos preferem as morenas de voz grave

A visão é o mais importante sentido para os humanos; a aparência é o que nos atrai. «Os homens preferem as loiras», mas os homens poderosos preferem as morenas de cabelo escuro que, acredita-se, têm níveis de testosterona mais elevados e, potencialmente, melhores genes.
Os humanos e outras espécies consideram as vozes atractivas. Nos humanos, vozes profundas, roucas - vistas como sexualmente atractivas por ambos os sexos - também estão relacionadas com altos níveis de testosterona e, como tal, potencialmente representativas de uma líbido elevada e de bons genes.
in"A grande chatice da vida é...acabar",David Shields, estrela polar

Se quisermos viver mais tempo


Se quisermos viver mais tempo devemos - além do óbvio: comer menos e perder peso - mudar para o campo, deixar de trazer trabalho para casa, fazer o que gostamos e sentirmo-nos bem connosco, arranjar um animal de estimação, aprender a relaxar, viver o momento, rir, ouvir música, dormir seis a sete horas por noite; termos a benção de pais e avós que vivem muito tempo (35% da nossa longevidade deve-se a factores genéticos); estar casado, dar abraços, dar as mãos, ter sexo regularmente, ter muitos filhos, dar-nos bem com a nossa mãe, aceitar os nossos filhos, acarinhar os netos; ter uma boa educação, estimular o cérebro, aprender coisas novas; ser optimista, canalizar a raiva de uma forma positiva, não ter de estar sempre certo; não fumar, usar menos sal, comer chocolates ocasionalmente, praticar uma dieta mediterrânea de fruta, vegetais, azeite, peixe e aves, beber chá verde e quantidades moderadas de vinho tinto; fazer exercício; ter objectivos, arriscar-se; confiar num amigo, não ter medo de procurar aconselhamento psicológico, ser voluntário, ter parte activa na comunidade, ir à igreja, encontrar Deus.... ter sentido de humor."

in, "A grande chatice da vida é ... acabar", David Shields, estrela polar