segunda-feira, 5 de outubro de 2009

As temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo


O fingimento artístico;

Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve, Fernando Pessoa aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia-se em experiências vividas , mas transcreve apenas o que lhe vai na imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O leitor é que ao ler, vai sentir o poema.

A dor de pensar;

Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes de ter a inconsciência das coisas ou dos seres comuns que agem como uma pobre ceifeira ou que cumprem apenas as leis do instinto como o gato que brinca na rua.
Com uma inteligência analítica e imaginativa a interferir em toda a sua relação com o mundo e com a vida , o sujeito poético tanto aceita a consciência como sente uma verdadeira dor de pensar, que traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento . O sujeito poético sente-se impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que não permite conciliar a consciência e a inconsciência.
O poeta “não quer” intelectualizar as emoções, quer permanecer ao nível do sensível para poder desfrutar dos momentos, a constante intelectualização não o permite. Sente-se como enclausurado numa cela pois sabe que não consegue deixar de raciocinar. Sente-se mal porque, assim que sente, automaticamente intelectualiza essa emoção e, através disso, tudo fica distante, confuso e negro. Ele nunca teve prazer na realidade porque para ele tudo é perda, quando ele observa a realidade parece que tudo se evaporou.
A fragmentação do eu/Resignação dorida;

O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Sofre a vida sendo incapaz de a viver.
No poema Não sei quantas almas tenho, o sujeito poético confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, porque esta divisão provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aquilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história, distancia-se para se ver, despersonaliza-se.

in http://www.notapositiva.com/
(adaptado)

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