domingo, 18 de outubro de 2009

Fernando Pessoa ortónimo-síntese das ideias essenciais

Em Pessoa ortónimo, sem incluir a Mensagem, há poemas mais tradicionais com influência lírica de Garrett ou do sebastianismo ou do saudosismo. No entanto, muitos dos poemas abrem caminho a experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.
A poesia de Pessoa ortónimo apresenta suavidade rítmica e musical, sendo os versos geralmente curtos.
Na poesia de Pessoa ortónimo, é constante o conflito entre o pensar e o sentir, o que revela a dificuldade em conciliar o que idealiza com o que consegue realizar, com a consequente frustração que a consciência de tudo isso implica. Revela-se aí um drama de personalidade que leva o sujeito poético à dispersão, em relação ao real e a si mesmo.

O fingimento artístico
Para Pessoa, um poema «é um produto intelectual» e, por isso, não acontece «no momento da emoção», mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de «existir intelectualmente», o que só na recordação é possível.
Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto directo da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um «fingimento», uma simulação.
Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o «fingimento», que não é mais do que uma realidade nova, elaborada mentalmente.
O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que se quer representar.

A dor de pensar
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência.
A racionalização não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.
A dialéctica da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.
A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.

A nostalgia da infância
Pessoa sente nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora uma felicidade passada. Há, na sua poesia, uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.
O seu desejo de ser criança novamente tem que ver com a noção concreta de que o tempo é um factor de desagregação. Na vida, tudo é efémero.

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